Foto: Reprodução/CNN |
O historiador Marco Antonio Villa analisa o comportamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista exclusiva à CNN, ele comenta o 'desrespeito' do chefe do executivo à democracia e traça um panorama sobre a situação atual do país e do governo.
"Ele tem uma enorme dificuldade de conviver com as instituições, de dialogar com os partidos, entender a democracia, o Estado democrático de direito, a Constituição. Tenho certeza que ele a desconhece, sequer a leu", dispara, explicando seu ponto de vista.
"Sua visão de mundo não faz parte do sistema democrático. Ele não é liberal, nem conservador. Bolsonaro não está na direita, ele está fora do espectro democrático. Ele é um perigo para as nossas instituições, coloca em risco a democracia brasileira todo santo dia. Exemplos não faltam".
Villa aponta que Bolsonaro dedica seu tempo a atacar outros poderes. "Se olharmos o conjunto de suas ações, sistematicamente ele ataca Supremo Tribunal Federal (STF), a representação máxima do Judiciário. Por outro lado, ataca sistematicamente o Poder Legislativo, o Congresso Nacional, desqualificando sua ação. Os crimes com relação à Constituição são inúmeros. Choques com as instituições, vários crimes constitucionais e ações lesivas ao interesse nacional".
"Ele já compareceu a várias manifestações que defendiam o fechamento do Congresso, do STF e imposição da ditadura. Quando você vai a uma manifestação como essa, concorda com o que eles estão defendendo. E ele concorda com isso, pois não consegue conviver com a alternância, com a democracia e o estado democrático de direito", continua.
O historiador acha que a reação foi abaixo do esperado, tanto do poder Legislativo quanto do Judiciário. "A resposta do Congresso foi tímida frente à maior agressão sofrida desde a vigência da Constituição de 1988. O STF também, manifestações tímidas. Creio que isso deva mudar com a revelação da gravação da reunião ministerial", diz, referindo-se a reunião citada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal.
Villa recorda que o comportamento di presidente não vem de hoje. "Não é só agora com a crise sanitária junto com a crise econômica e institucional, que é a pior da história do Brasil republicano. Se retroagirmos ao ano passado, quando começou o governo, Bolsonaro já tinha claramente feito manifestações antidemocráticas. Se puxar à época de deputado federal, ele defendeu guerra civil, a morte de 30 mil brasileiros, o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique Cardoso..."
"Na presidência, defendeu torturadores, o (Carlos Alberto Brilhante) Ustra, um assassino que chefiou o DOI-CODI do 2º Exército, que assassinou dezenas de brasileiros entre 1970 e 1974. A nossa Constituição deixa bem claro que rejeita a tortura, ele defende torturador e tem o livro do coronel na mesa de trabalho. Só para provocar, tenho certeza que ele não leu sequer a orelha do livro", alfineta.
A relação do país com o resto do mundo também não é boa, analisa o historiador. "Em termos de relações internacionais, hoje o Brasil é um país diplomaticamente isolado, uma África do Sul na época do apartheid. Que país estabelece hoje boas relações com o Brasil? União Europeia? Não. América Latina, idem, o Brasil tem problemas com o Mercosul. Com os Estados Unidos, também não, apesar da relação de subserviência do Bolsonaro".
A tendência é piorar, aponta. "Na Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil foi humilhado. Um presidente que é censurado nas redes sociais por postar notícias mentirosas, é crime de responsabilidade. Não vai ter o acordo União Europeia-Mercosul. Com tudo o que o Bolsonaro está fazendo hoje, esse acordo, que é fundamental para nossa recuperação econômica, não será aprovado. A China, nossa maior parceira, vai retaliar o Brasil por atos constantes de xenofobia", enumera.
É difícil prever o futuro, explica. "No Brasil, dois anos é uma eternidade. Quem diria em 2016 que em 2018 Bolsonaro ganharia essa eleição? Acho que nem ele acreditava. A forma de solução dessa crise vai definir o processo eleitoral de 2022.
Extraído do CNN Brasil.
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