ATO IRRESPONSÁVEL: Bolsonaro não leva a sério as recomendações de especialistas em combate a epidemias e de seu ministro da Saúde
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Foto: Sergio Lima/AFP via Getty Images |
PESQUISADORES DA UNIVERSIDADE DE OXFORD, no Reino Unido, publicaram neste domingo um estudo preliminar calculando e comparando as prováveis mortes pelo novo coronavírus no Brasil e na Nigéria. Aqui, de acordo com a projeção, deve haver até 478 mil mortes. Trata-se de um preprint, ou seja, um estudo que ainda não foi revisado por outros pesquisadores, nem validado por uma publicação científica, mas que é antecipado para acelerar a circulação de informações de interesse público em emergências – exatamente como a crise que estamos vivendo.
Como se trata de um estudo preliminar, ele ainda será discutido pela comunidade científica nos próximos dias. É possível que os autores decidam fazer correções na sua versão final. Por isso, é necessário olhar para os números com cautela.
Para chegar aos números, os pesquisadores analisaram a proporção entre jovens e idosos da população de vários países. O novo coronavírus é particularmente fatal para a população mais velha. Para entender o padrão de mortalidade da doença, os cientistas analisaram dados da Itália, onde 1.809 pessoas já morreram, e da Coreia do Sul, que, apesar de ser a nação mais afetada do mundo, com mais de 7.700 casos, teve apenas 60 mortes.
Aqui, 2% da população têm mais de 80 anos. Embora qualquer pessoa a partir de 60 anos já seja considerada vulnerável, é esse o grupo que corre maior risco de vida com a Covid-19, a doença provocada pela nova variedade do coronavírus, que começou a se espalhar na China e já contaminou mais de 160 mil pessoas no mundo e matou outras 6 mil.
Segundo a pesquisa de Oxford, evitar o contato com outras pessoas e colocar em prática políticas públicas para retardar a transmissão são maneiras eficazes de frear o mais perverso efeito da Covid-19: a enxurrada de casos graves simultâneos que sobrecarrega o sistema de saúde e faz com que parte dos pacientes graves fique sem atendimento. É o que vem acontecendo na Itália, onde médicos têm de escolher quais pacientes vão tratar.
Os pesquisadores dizem que, quanto maior a quantidade de idosos na população, mais drásticas terão de ser as medidas adotadas por cada país. E que elas devem levar em consideração o impacto sobre a população mais sensível ao vírus. O fechamento indiscriminado de escolas, por exemplo, pode colocar crianças – um grupo com alto índice de transmissão, mas pouco perigo de mortalidade – em contato próximo com os avós, o grupo em maior risco.
É por isso que o negacionismo de Bolsonaro diante dos perigos do coronavírus é catastrófico. Enquanto o mundo inteiro colocava em prática medidas de contenção da pandemia – como checagem da temperatura de passageiros em aeroportos, cancelamento de voos, fechamento de fronteiras, bares e restaurantes e proibição de aglomerações de até mesmo 15 pessoas –, o presidente incentivou que seus apoiadores fossem às ruas de todo o país no domingo em apoio ao seu governo e ao fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Ainda mais grave, Bolsonaro resolveu marcar presença e, durante uma hora, fez contato com ao menos 272 pessoas – várias delas, idosas. Ele próprio deveria estar em isolamento depois de fazer dois exames que deram negativo. Ele ainda fará um novo teste no final desta semana. Em viagem recente para os Estados Unidos, o presidente esteve próximo de pelo menos 12 pessoas infectadas. Mas, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde, Bolsonaro decidiu pausar seu isolamento e sair sem máscara ou qualquer forma de proteção para apertar a mão de simpatizantes e ficar de rosto colado com manifestantes tirando selfies.
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Foto: Andressa Anholete/Getty Images |
A falta de ação do governo federal e a irresponsabilidade pessoal de Bolsonaro vão causar mortes por Covid-19 que poderiam ser evitadas. Com um presidente incapaz de agir e se portar com a serenidade necessárias num momento de crise grave, uma projeção baseada nos piores cenários possíveis, ainda que careça de estudos complementares, deve ser lida com atenção. Afinal, parece que o presidente está fazendo de tudo para que ela se torne realidade.
(The Intercept Brasil)
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