Ao som de Richard Wagner, o compositor favorito de Adolf Hitler, o secretário de Cultura do Governo, Roberto Alvim, plagiou em pronunciamento que foi ao ar nas redes sociais trechos de um discurso do ministro da Propaganda do führer nazista, Joseph Goebbels. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa (...) ou então não será nada”, diz Alvim no vídeo. O líder nazista havia dito: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa (...) ou então não será nada”. O caso causou revolta nas redes sociais e a manifestação dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Supremo, Dias Toffoli. A Confederação Israelita do Brasil considerou “inaceitável” o uso do discurso. No início da tarde desta sexta, o Governo demitiu o secretário , alegando que o pronunciamento “tornou insustentável” sua permanência.
Após parafrasear o nazista, Alvim afirmou nas redes sociais que se tratou de uma “coincidência retórica”, e que não citou Goebbels “e jamais o faria”. Ao jornal O Estado de São Paulo, no entanto, ele disse que “a origem [da frase] é espúria, mas as ideias contidas da frase são absolutas perfeitas." "Eu assino embaixo”, ressaltou. Já em entrevista à Rádio Gaúcha, ele apresentou nova versão, e se defendeu alegando que foi uma “infeliz coincidência retórica”, fruto de uma pesquisa feita por sua equipe no Google.
Não é a primeira vez que um integrante do primeiro escalão bolsonarista emula regimes autoritários em detrimento da democracia. O ministro da Economia, Paulo Guedes, já defendeu em duas ocasiões um novo Ato Institucional número 5 (AI-5) da ditadura militar, responsável pelo endurecimento da repressão e conhecido como “golpe dentro do golpe”. A fala aconteceu depois de uma refeência ao AI-5 feita pelo próprio filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que defendeu a medida caso a “esquerda radicalizasse”.
O discurso de Alvim coloca Bolsonaro em uma situação delicada. Eleito com apoio de boa parte da comunidade judaica do país, o presidente se empenhou desde a posse na tarefa de estreitar laços com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu. O Planalto, inicialmente, afirmou eu não iria comentar o discurso de inspiração nazista de Alvim. Horas depois veio a nota do presidente afirmando que ele seria demitido. Já a Confederação Israelita do Brasil divulgou nota dizendo ser “inaceitável o uso de discurso nazista pelo secretário”. “É um sinal assustador da sua visão de cultura, que deve ser combatida e contida”, diz o texto. A embaixada da Alemanha no Brasil publicou texto afirmando que “o período do nacional-socialismo é o capítulo mais sombrio da história alemã (...) opomo-nos a qualquer tentativa de banalizar ou glorificar esta era”.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, se manifestou: “Há de se repudiar com toda a veemência a inaceitável agressão que representa a postagem feita pelo secretário de Cultura. É uma ofensa ao povo brasileiro, em especial à comunidade e judaica”.
Com informações, El País
Comentários