Foto: Betto Jr. / CORREIO |
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), chefiado pela ministra Damares Alves, emitiu uma nota na tarde desta quarta-feira (5) repudiando a agressão de um policial militar a um jovem soteropolitano no último fim de semana. No comunicado, a pasta classificou o ato como "racismo criminoso".
"O MMFDH condena a atitude irregular do policial em questão, que não corresponde com o comportamento esperado de um servidor da Lei. Nenhum tipo de violência e racismo será tolerado por este Ministério e, por isso, prestamos nossa solidariedade e apoio ao jovem agredido e reafirmamos o objetivo de enfrentar e combater o racismo no Brasil", diz o comunicado.
"Além disso, afirmamos nossa confiança no trabalho da Polícia Militar que, com certeza, não aprova esse tipo de abordagem. Agradecemos, também, àqueles que têm denunciado casos como esse e solicitamos à população que continue atenta aos crimes de racismo e violência e denuncie", completou.
Relembre
No domingo (2), o adolescente voltava para casa, junto com a namorada, quando o casal parou para falar com um amigo que estava em um carro. No momento que conversavam, uma equipe da PM se aproximou e um dos policiais disse: “O que está acontecendo aí?”.
Na abordagem truculenta, o PM retira a boina do jovem que usa cabelo no estilo black power e a joga no chão. “Colocou os meninos encostados no muro e começaram as agressões. Além de xingá-lo de vagabundo, deu bicudas e socos nele. Fiquei chorando, mas não podia fazer nada por que ele estava me olhando com raiva", contou a namorada do rapaz.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-BA), Jerônimo Mesquita, explica que houve abuso de poder na abordagem do policial. “O jovem estava de costas, não representava perigo. O que ele poderia fazer é imobilizar o rapaz, mas ali foi uma agressão gratuita”, avaliou.
Mesquita explica ainda que, ao agredir o rapaz, o agente cometeu lesão corporal, acompanhada de injúria racial pela depreciação do cabelo black power e também homofobia por tê-lo chamado de ‘viado’.
A ação foi gravada no bairro de Paripe, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, sem que os policiais envolvidos na abordagem percebessem, e as imagens divulgadas nas redes sociais na tarde desta segunda-feira (3). Diante do medo, o adolescente pensa em cortar o cabelo.
Você pra mim é um ladrão. Você é vagabundo! Essa desgraça desse cabelo. Tire aí [o chapéu], vá! Essa desgraça aqui. Você é o quê? Você é trabalhador é, viado?", disse o PM no vídeo ao estudante.
Fato isolado
Após lamentar o ocorrido para a imprensa, o comandante geral PM classificou a situação como um fato isolado. Então, questionado sobre outros casos recentes em que PMs foram flagrados em vídeo praticando agressões físicas, coronel Anselmo Brandão respondeu: "Pelo universo da Bahia, com 417 municípios, a corporação com 32 mil homens, pode se dizer que isso é um fato isolado. Então, senhores repórteres, uma corporação com 32 mil homens, diante da atividade que eles exercem, é impossível não cometerem excesso e para isso temos a Corregedoria".
Mãe e filho estiveram ontem à noite na sede da Corregedoria da Polícia Militar da Bahia, na Pituba, para prestar depoimentos sobre o acontecido. O PM suspeito de envolvimento na agressão também foi ouvido na unidade nesta terça.
Segundo o comandante geral, condutas indevidas resultaram em 18 policias militares exonerados no ano passado. "Foram policiais fora da corporação por procedimentos diversos. Se num universo de 200 policias há uma ou duas almas perdidas, não refletem o comportamento de tropa toda", declarou Brandão.
Durante as entrevistas, Karina Barros e o filho relataram a sensação de medo. Eles temem represália. O rapaz que filmou a agressão do policial disse que está sendo ameaçado. Perguntado sobre as duas situações, o comandante geral disse:
Não tenho conhecimento desses fatos formalmente, mas para a mãe do rapaz deixei os meus telefones pessoal e funcional para me acionar para qualquer coisa, a qualquer hora. Em relação à ameaça, se houve vamos coibir, apurar. Vamos conversar com o comandante da companhia do policial. Isso é inadmissível.
Apoio
Após o encontro, Karina falou com os jornalistas. Ela disse que se sentiu mais tranquila, mas que ainda teme pela vida do filho. “Desde o início de tudo que a gente não tem uma noite tranquila de sono. Vivemos com muito medo. Meu filho ainda não desistiu de cortar o cabelo, porque ele não quer passar por tudo isso mais uma vez”, declarou a mãe do rapaz ainda dentro do Quartel dos Aflitos.
Quando deixavam o quartel, mãe e filho foram abordados por pessoas que levaram palavras de resistência ao rapaz, entre elas a professora Gerusa Freitas. “Não corte seu cabelo. Como você já disse, seu cabelo é a sua identidade. Não faça isso. Tenho um filho que também usa o black power e disse para ele não deixar de usar. Seja resistência, menino”, declarou ela, olhando nos olhos do adolescente agredido.
“E digo mais: como pode Salvador, a cidade mais negra fora do continente africano, e seus habitantes, formada pela grande maioria de negros, não poder expressar sua negritude? E o pior que um dos maiores responsáveis por esse crime é quem deveria combater, o Estado”, desabafou em seguida.
Por Correio da Bahia.
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