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ARTIGO: A estética é o que nos mata primeiro

Foto: Reprodução / A Tarde
Por Ashley Malia

Acredito que seja forte afirmar que o primeiro gatilho para que o racismo aja sobre corpos negros seja a estética, principalmente em um momento em que muitas pessoas tanto desmerecem a luta (sim, luta) que envolve a estética afro-diaspórica. Entretanto, é necessário que a gente continue pensando em como a violência racial se apresenta primeiro a partir das micro-violências, para depois partir para o macro.

O caso de racismo e violência policial que ganhou as manchetes dos jornais nacionais, nesta terça-feira, 4, traz mais uma vez a noção do quanto ainda precisamos repetir que a nossa estética é afirmativa. Antes de adentrar no assunto, deixo registrado o meu total repúdio à Polícia Militar da Bahia (PM), que é uma das mais racistas do país, justamente na cidade considerada a mais negra fora do território africano. Ter ao nosso redor uma instituição como esta, é estar o tempo inteiro em alerta, pois a qualquer momento podemos ser um dos alvos do projeto racista e genocida perpetuado pela PM.

Um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra uma abordagem policial extremamente violenta, em que um policial militar (que já foi identificado) agride um jovem negro, afirmando que o cabelo black power dele era “coisa de vagabundo”. E por isso, enquanto pesquisadora do assunto, volto para a questão do título deste artigo: a estética é o que vai nos matar primeiro. Apesar de muito ter se falado sobre estética afro-diaspórica na bolha virtual em que muitos de nós estão inseridos, ainda não somos capazes de ‘tombar’ da forma como Karol Conka fala na música que inspirou o termo ‘Geração Tombamento’.

Ivy Guedes, uma das idealizadoras da Marcha do Empoderamento Crespo Salvador, afirmou uma vez que “tombar, para nós, é um ato político”, e eu trago até hoje essa frase comigo, pois essa geração tem conseguido ressignificar, aos poucos, o ‘tombar’, mas ainda é necessário caminhar muito para transformar o peso que carrega essa palavra, pois muitos de nós ainda estão tombando (negativamente) pela estética.

E o motivo pelo qual eu digo que a estética é o que nos mata primeiro, é por enxergar que ela é o que vai fazer o racismo nos perseguir desde a infância, e é o que vai fazer a mulher branca apertar a bolsa, é o que faz o policial violentar um jovem. Exatamente por isso que toda estética afro-diaspórica é afirmativa, pois imersos em um país que nos violenta apenas pela textura do cabelo, continuar usando esse black power, que cresce para cima, é um ato político. Ouvir o jovem negro, que apanhou do policial, declarando que é com o cabelo desse jeito que ele gosta de estar, é perceber o quanto essa estética é poderosa, mesmo que nem sempre estejamos conscientes deste movimento.

Na minha pesquisa de conclusão de curso, intitulada ‘Marcha do Empoderamento Crespo e afirmação identitária em Salvador’, trago a conexão entre cabelo e identidade racial, discutindo sobre o quanto as teorias racialistas continuam perpetuando o racismo até os tempos atuais. A violência racial obriga a população negra a negar seus traços de diversas formas diferentes, pois o racismo é multifacetado. Ele se apresenta de forma sutil, nos fazendo acreditar que o alisamento, que queima o nosso couro cabeludo, é a melhor opção que temos para ficarmos bonitos; e ele também se apresenta em forma de instituição, como a Polícia Militar, dizendo que esse cabelo é de vagabundo e nos agredindo fisicamente apenas por termos nascido com esse cabelo.

Entender o peso que carrega o Orí daquele que ousa desafiar o racismo ao assumir essa identidade é fundamental para que a gente possa aprender a não diminuir a discussão estética (que aqui eu falo distante do conceito comercial do qual essas ideias foram apropriadas) e, principalmente, para que possamos aprender a nos defender.

Do A Tarde

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