Clóvis de Barros Filho crê que há um movimento de moralização, mas medidas ainda são insuficientes |
Zero Hora — Por que o Brasil não consegue combater a corrupção?
Clóvis de Barros Filho — Nossa crise é moral e, entre outras razões, decorre de uma imensa fragilidade na nossa formação. Não fomos ensinados na escola a refletir sobre a liberdade que temos para escolher nossos caminhos e sobre como devemos agir. São problemas profundos e de difícil correção imediata. A nossa sociedade, com seus mecanismos repressivos, não cumpre seu papel civilizatório de despertar, pelo menos, o medo na hora de a pessoa agir. A esperança de enriquecer fácil é muito maior do que o medo de ser pego, razão pela qual vale a pena arriscar.
ZH — Como avalia a iniciativa de órgãos públicos que estão adotando mecanismos de prevenção?
Clóvis — São medidas excelentes. Mas, embora estejamos assistindo a uma moralização do serviço público, tudo isso ainda é insuficiente.
ZH — Que outras ações também podem ser executadas pela administração pública?
Clóvis — Muita gente pensa nas medidas de vigília, mas estou absolutamente convencido de que, se tivéssemos uma formação de qualidade para o servidor público, teríamos índices de consciência da importância cívica dessa atividade que melhorariam demais a postura moral do servidor diante das suas tarefas.
ZH — E os efeitos da corrupção?
Clóvis — Na hora em que há uma crença generalizada de corrupção, a desconfiança acaba deslegitimando o Estado. Pode haver consequências nefastas como acreditar que segmentos vitais à sociedade, como saúde, educação e segurança, possam ser melhor tratados de maneira privada. Não é porque o Estado não faz como deveria o seu papel que ele deixa de ser parte legítima na condução dessas áreas, sobretudo em uma sociedade como a nossa, profundamente desigual e marcada pela concentração de renda.
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