Hoje acabam os três dias de luto oficial decretado pela prefeitura de Lajedinho, na Chapada Diamantina, após uma enxurrada ter devastado a cidade, no sábado, deixando 17 mortos. Porém, as marcas deixadas pela tragédia provocarão ainda por muito tempo dor da população de cerca de quatro mil habitantes.
Depois de uma manhã de buscas, o corpo da última vítima desaparecida, a estudante Carolina Lima de Oliveira, 11 anos, foi encontrado no meio da tarde por equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil.
“O corpo da minha filha estava a seis quilômetros da casa da avó, onde ela morava desde os 3 anos de idade. O corpo vai para Itaberaba para passar por perícia. Eu nem tenho conseguido resolver o sepultamento. Preciso dar apoio a minha esposa, que perdeu também a mãe e o irmão que estavam na casa junto com Carol”, conta o pai da garota, Carlos Bispo de Oliveira, conhecido na cidade como Tempero, 34 anos.
Carol morava com a avó, Maria de Jesus, porque a idosa precisava de companhia. O tio, Mario Pereira Lima, morava na mesma casa. “Ela me ligou dizendo ‘meu pai, a casa de vó tá cheia de água, venha nos ajudar’. Eu nem consegui chegar próximo da casa por causa da chuva e ainda faltou luz na hora”, conta o pai.
Carol sonhava em ser atriz e era conhecida por ser extrovertida. “Ave Maria! Carol tinha muitos amigos, era uma menina muito querida, está todo mundo muito triste”, comentou o pai. Segundo ele, a mãe da menina, a auxiliar de professora Arlinda Pereira Lima, 32, está em estado
de choque.
No total, há 820 pessoas desabrigadas (em alojamentos do poder público) na cidade. Segundo Paulo Sérgio Luz, coordenador adjunto da Defesa Civil, ontem foram montadas 45 barracas pelo Exército.
“Em cada barraca dessa ficará uma família, é uma tentativa de darmos um mínimo de conforto às famílias desabrigadas, para que elas possam descansar”. No local há energia elétrica e foram instalados banheiros químicos e estruturas para banho.
Há ainda 205 desalojados (em casas de parentes ou amigos). Segundo Paulo, são famílias que esperam liberação da Defesa Civil para retornar às casas, ou precisam de reforma, limpeza ou até mesmo de estrutura mínima de móveis e eletrodomésticos.
Reconstrução
O prefeito Antônio Mário Lima (PSD) conclui hoje um orçamento para pedir para a União recursos para reconstruir a cidade. Segundo ele, a estimativa é de que serão necessários
R$ 30 milhões para a construção de casas, ampliação de canais, reconstrução de equipamentos e prédios públicos como escolas e postos de saúde.
“Lajedinho recebe poucos recursos e já tinha deficiências. Então, teremos muito trabalho”. A Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (Sedes) direcionou R$ 100 mil para o município através do Benefício Eventual Emergencial. Outros R$ 127,9 mil foram repassados pelo governo estadual através dos recursos de cofinanciamento da assistência social. O Ministério da Integração Nacional enviará 1.435 kits humanitários.
Mais chuva
Segundo a meteorologista Cláudia Valéria Silva, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é de que volte a chover na Chapada na sexta-feira. “Não há como dizer se será em Lajedinho, mas há previsão de chuva na região”.
A Defesa Civil trabalha com máquinas para a desobstrução de ruas e na retirada de famílias de áreas de risco. “A população está sendo conscientizada, sabemos da possibilidade de voltar a chover”, explica o coordenador da Defesa Civil.
Fazendeiro doa terreno na parte alta para construção de casasO fazendeiro Paulo Brandão doou, ontem, 60 tarefas de terra (cerca de 25 campos de futebol), na parte mais alta da cidade. A área será usada pela prefeitura para a construção de 200 casas, comércios e prédios públicos. Não haverá mais construções nas áreas baixas, atingidas pela enxurrada. Além das tendas do Exército, a Defesa Civil disponibilizou 1.600 m² de lona, 140 cobertores e seis mil copos de água mineral. As Voluntárias Sociais enviaram seis mil pacotes de sopa concentrada e os programas Vida Melhor e PAA Alimentos, da Sedes, enviarão três refrigeradores. A Secretaria da Agricultura determinou que órgãos vinculados a ela trabalhem para que as atividades econômicas da cidade, baseadas principalmente na pecuária de corte e a agricultura, retomem o trabalho o quanto antes. Produtores de hortaliças do Agropolo Mucugê/Ibicoara doaram R$ 20 mil. Em Salvador, recebem doações o Tribunal de Justiça (no CAB, de 8h às 18h) e a Defesa Civil de Salvador (Av. Bonocô, 80, de 8h às 17h). A Polícia Militar em Lençóis e região está arrecadando donativos e a campanha de arrecadações da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) segue até dia 18.
(Correio)
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