por Alexandre Lozetti
Vai,
Corinthians! Vai para as ruas, vai para o abraço do torcedor que te ama, vai
para o pódio, vai levantar a taça que você tanto sonhou... Vai atravessar o
mundo. Vai para o Japão!
Cássio, Alessandro, Chicão, Leandro Castán, Fábio Santos, Ralf,
Paulinho, Alex, Danilo, Jorge Henrique, Emerson, Julio Cesar, Danilo Fernandes,
Welder, Marquinhos, Wallace, Ramón, Willian Arão, Ramírez, Douglas, Romarinho,
Gilsinho, Willian, Elton, Liedson e Tite. Nomes que não vão constar em livros
de História, mas estarão eternamente dentro dos corações e da memória de
milhões de pessoas, que ensinarão aos filhos e netos quem foram eles, e o que
foi o 4 de julho de 2012 para a nação corintiana. O dia da libertação. O dia da
Libertadores.
A vitória por 2 a 0, na noite desta quarta-feira, no Pacaembu,
sobre o gigantesco Boca Juniors, de tradições e glórias mil, de seis títulos
sul-americanos, torna ainda mais gigantesca a conquista inédita. E mais: de
forma invicta, algo que só um time brasileiro havia conseguido - o Santos de
Pelé, em 1963. A taça da Libertadores, enfim, tem uma plaquinha do Corinthians.
O
triunfo final sobre os argentinos selou a campanha com identidade. De um time
sem estrela, que não se assustou com placares adversos, rivais tradicionais ou
craques do outro lado. Que não se pressionou por nada e encontrou o equilíbrio
(palavra idolatrada por Tite) entre lutar a cada centímetro de grama pela
Libertadores sem tratá-la como um campeonato do outro mundo.
De 6 a 16 de dezembro, o Corinthians tentará o bicampeonato
mundial. Dessa vez, sem convite, sem a chance de enfrentar um brasileiro na
final e tendo que ir ao Japão. Bem diferente de 2000, quando bateu o Vasco na decisão, no
Maracanã. Um mundial para ninguém botar defeito. Monterrey (MEX), Auckland
City, da Nova Zelândia, e o poderoso Chelsea (ING) já estão classificados para
a competição no fim do ano.
Mais luta do que futebol
O Corinthians entrou em campo invicto na Libertadores. O Boca
Juniors foi ao Pacaembu sem ter perdido nenhum jogo fora de casa. Jogaço?
Lutaço! Os primeiros minutos fizeram inveja a Anderson Silva e Chael Sonnen.
Soco de Chicão em Mouche, empurrão de troco, tapa de Erviti em Paulinho... Mais
tarde, ainda haveria exibição de "El Tanque" Santiago Silva, com
cotovelada em Castán e tentativa de imobilização em Ralf.
Futebol mesmo apareceu pelos pés de Sheik. Com velocidade,
ousadia e toques rápidos, o camisa 11 era quem menos tinha medo da decisão.
Ousadia que provocou o maior drama do primeiro tempo: um choque entre Somoza e
o goleiro Orion.
O camisa 1 do Boca caiu por três vezes no chão e não suportou a
dor. Saiu aos prantos, consolado pelo técnico, o ex-goleiro Julio César
Falcioni. E por ironia do destino, o reserva Sosa, pouco mais de um ano depois,
voltou ao Pacaembu. Era ele o goleiro do Peñarol (URU), que perdeu a final da
Libertadores de 2011 para o Santos.
Alex não confiou nem em Orion nem em Sosa. Tentou quatro
finalizações de fora da área, sem sucesso. Do outro lado, Riquelme, que antes
do jogo tomava água e gargalhava, foi só rascunho do grande jogador que entrou
para a história. Era constrangedor seu esforço, em vão, para correr e achar os
companheiros, limitados tecnicamente. Fim de primeiro tempo com a certeza de
que o segundo não poderia ser pior.
Sheik para a história
O empate levaria o jogo para a prorrogação, e Riquelme, que mal
conseguia jogar 90 minutos, parecia querer disputar 120. Rolou no chão, demorou
para cobrar escanteio, mexeu com o equipamento dos fotógrafos e fez falta digna
de jogador juvenil. Na cobrança, a bola esperou por um toque consciente, que
veio do calcanhar de Danilo. Sheik, no lugar certo, na hora certa, fuzilou Sosa
e deixou o Pacaembu em êxtase.
A vantagem expôs ainda mais a limitação do Boca. Riquelme, em
atuação de dar pena, não criou nada. O único recurso, mesmo depois que Falcioni
colocou o atacante Cvitanich no lugar do meia Ledesma, eram os cruzamentos. Os
argentinos abriram o meio e se cansaram, cenário dos sonhos para o Corinthians
garantir o título invicto (oito vitórias e seis empates).
Mouche, sozinho, teve a única boa chance dos visitantes durante
o jogo. Cabeceou nas mãos de Cássio. Uma caridade do atacante para que o
goleiro, brilhante no mata-mata, pudesse aparecer na decisão. Riquelme, de 34
anos, não era o único "velhinho" cambaleante em campo. Schiavi, aos
39, errou passe fácil no campo de defesa. Deu nos pés de quem não poderia dar.
Daquele que nasceu para ser vencedor. Tricampeão brasileiro nos últimos três
anos, Emerson arrancou para a glória definitiva. Deixou Caruzzo para trás como
se o rival nem existisse e tocou com categoria. Não parou de correr nem na
comemoração, quando foi perseguido pelo preparador físico Fábio Mahseredjian,
outro craque desse título.
Daí para frente foi só festa. O Boca não tinha mais o que fazer,
e os "antis" já nem secavam mais. A torcida orgulhosa por ter sido
fiel e Fiel na Libertadores, viajou por alguns segundos. Lembrou-se do vacilo
de Guinei, da cobrança de pênalti de Marcelinho Carioca, do "pega,
pega" do Morumbi, do gol de Vágner Love e de ter descoberto quem era o
Tolima. Exemplos que invertem a letra do hino. Teu passado é uma lição. Teu
presente, uma bandeira. Enquanto os adversários terão de pensar em novas brincadeiras a
partir de agora, a torcida grita "É campeão!". Duas palavras que
valem mais do que todas escritas acima. (G1)
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