Ayaan
Hirsi Ali publicou na revista Newsweek, de 13 de fevereiro passado, artigo
fartamente documentado sobre a guerra que os países islâmicos estão
desencadeando contra os cristãos, atingindo sua liberdade de
consciência, proibindo-os de manifestarem sua fé e assassinando quem
a professa individualmente ou mediante atentados a Igrejas ou locais onde se
reúnam.
Lembra que ao menos 24 cristãos foram mortos pelo exército
egípcio, em 9 de outubro de 2011; que, no Cairo, no dia 5 de março do mesmo
ano, uma igreja foi incendiada, com inúmeros mortos; que, na Nigéria, no dia de
Natal de 2011, dezenas de cristãos foram assassinados ou feridos, e que no
Paquistão, na Índia e em outros países de minoria cristã a perseguição contra
os que acreditam em Cristo tem crescido consideravelmente. Declara a
autora que “os ataques terroristas contra cristãos na África, Oriente próximo e
Ásia cresceram 309% de 2003 a 2010”. E conclui seu artigo
afirmando que, no Ocidente, “em vez de criarem-se histórias fantasiosas sobre
uma pretensa “islamofobia”, deveriam tomar uma posição real contra a
“Cristofobia”, que principia a se infestar no mundo islâmico. “Tolerância é
para todos, exceto para os intolerantes”.
Entre as sugestões que apresenta, está o Ocidente
condicionar seu auxílio humanitário, social e econômico a que a tolerância para
com os que professam a fé cristã seja também respeitada, como se respeita, na
maioria dos países ocidentais a fé islâmica.
Entendo ser o Brasil, neste
particular, um país modelo. Respeitamos todos os credos, inclusive aqueles que
negam todos os credos, pois a liberdade de expressão é cláusula pétrea na nossa
Constituição.
Ocorre, todavia, que as notícias sobre esta “Cristofobia
islâmica” são desconhecidas no país, com notas reduzidas sobre atentados contra
os cristãos, nos principais jornais que aqui circulam. Um homossexual
agredido é manchete de qualquer jornal brasileiro. Já a morte de dezenas
de cristãos, em virtude de atos de violência planejados, como expressão de
anticristianismo, é solenemente ignorada pela imprensa.
Quando da Hégira, em 622, Maomé lançou o movimento islâmico,
que levou à invasão da Europa em 711 com a intenção de eliminar todos os
infiéis ao profeta de Alá. Até sua expulsão de Granada — creio que em 1492
— os mulçumanos europeus foram se adaptando à convivência com os cristãos,
sendo que a filosofia árabe e católica dos séculos 12 e 13 convergiram,
fascinantemente. Filósofos de expressão, como Santo Tomas de Aquino, Bernardo
de Claraval, Abelardo, Avicena, Averróes, Alfa-rabi, demonstraram a
possibilidade de convivência entre credos e culturas diferentes.
Infelizmente, aquilo que
se considerava ultrapassado reaparece em atos terroristas, que não dignificam a
natureza humana e separam os homens, que deveriam unir-se na busca de um mundo
melhor. Creio que a solução apresentada por Ayaan Hirsi Ali é a melhor
forma de combater preconceitos, perseguições e atentados terroristas, ou seja,
condicionar ajuda, até mesmo humanitária, ao respeito a todos os credos
religiosos (ou à falta deles), como forma de convivência pacífica entre os
homens. É a melhor forma de não se incubarem ovos de serpentes, prodigalizando
auxílios que possam se voltar contra os benfeitores. (Jornal do Brasil)
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