Rafinha Bastos está sendo acusado de estimular o estupro pelo Conselho da Condição Feminina de São Paulo por causa de suas piadas. Não creio, claro, que ele tenha o menor interesse em estimular a violência contra a mulher. Assim como ele não tem prazer em debochar de órfãos, como fez em seu twitter no Dia das Mães.
O problema é o seguinte: essa geração de comediantes é vítima da busca do sucesso a qualquer custo, um vale-tudo para aparecer, típico da era da celebridade. Uma necessidade de ser engraçado e provocativo o tempo todo. Some-se a isso a tentação fácil de transmitir tudo em tempo real no twitter e no Facebook.
Acaba-se perdendo a noção de coisas elementares. Esculhambar órfão em Dia das Mães é considerado "piada". Ou dizer que só mulher feia reclama de estupro é visto como algo engraçado. Na verdade é apenas ridículo --um ridículo que faz sucesso.
Como judeu, aprendi a valorizar o humor refinado --a história do judaísmo se confunde com a história do humor. Mas também aprendi a detestar o uso da palavra para reforçar preconceitos.
Não vejo graça em coisas que fazem outras pessoas sofrerem.
Sou a favor da liberdade de expressão, claro. Por mais que nos doa. Mas estabelecer limites, dizendo o que vai além do aceitável em respeito humano, também é um valor democrático.
Ou seja, Rafinha Bastos, um sujeito talentoso, está sendo vítima de um estupro --ele está, sem saber, se estuprando moralmente.
Por: Gilberto Dimenstein / A Folha
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