O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo. De cerca 1,5 milhão de espécies catalogadas pelos cientistas, 13% estão espalhados pelos biomas brasileiros.
Por Afonso Capelas Jr.
Foto de Araquém Alcântara
Foto de Araquém Alcântara
Perereca-castanhola (Itapotihyla langsdorffii): Habita a Mata Atlântica do litoral brasileiro. Os anfíbios formam a base da cadeia alimentar, e no país está a maior diversidade do mundo, com mais de 800 espécies catalogadas. Essa variedade reflete-se na diversidade da fauna predadora.
Um minúsculo sapinho amarelo que se conta em milímetros pula da unha da bióloga em Santa Catarina. É o pingo-d'ouro, um dos menores anfíbios do mundo, catalogado pela ciência apenas nos anos 1990 e endêmico da Mata Atlântica. No extremo norte do Pará, uma rã coaxa tão insistentemente que inquieta o tarimbado biólogo holandês Marinus Hoogmoed. É um exemplar de Leptodactylus myersi, só encontrado na região amazônica do Escudo das Guianas. O coaxo fascina o biólogo, que não o reconhece ao primeiro som - quem sabe uma nova espécie, como tantas outras que ele já catalogou cientificamente. Ficar frente a frente pela primeira vez com uma nova descoberta, ou recatalogar suas áreas de incidência, é uma tarefa nada rara para os biólogos que trabalham no país.
Afinal, qual outro país abriga tão expressiva biodiversidade como o Brasil? A resposta, simples e direta: nenhum. Seis dos principais biomas de nosso território reúnem a maior variedade de fauna e flora da Terra. De acordo com os números do Ministério do Meio Ambiente, Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal Mato-Grossense e Pampas têm, juntos, mais de 13% de cerca de 1,5 milhão de espécies de vida selvagem já descobertas e catalogadas pelos cientistas nos quatro cantos do mundo.
Trocando em miúdos: além das 55 mil plantas com sementes, são nada menos que 530 de mamíferos (mais de meia centena de primatas), 1,8 mil de aves, 800 de anfíbios, 680 de répteis e cerca de 3 mil de peixes. Isso sem levar em conta que apenas 10% da zoologia brasileira estimada é conhecida e estudada. Os mais respeitados pesquisadores internacionais calculam que estão sendo encontrados, a cada ano, perto de 1,5 mil novas espécies. Nesse ritmo, dizem eles, precisaremos de 800 mil anos para conhecer toda a nossa biodiversidade - claro, contanto que estancássemos o ritmo de devastação e extinção. Entre os grupos mais bem identificados e definidos de forma científica em nossa fauna estão os mamíferos e as aves. São os mais visíveis na mata, os mais comuns de estar em contato com o ser humano. Contudo, grande parte de pequenos animais que se escondem no alto das árvores, invertebrados e elementos que vivem nas águas da costa litorânea são ainda ilustres desconhecidos da comunidade científica.
Essa riqueza de fauna deve-se aos múltiplos hábitats que ocupam o imenso território brasileiro, com sua geografia diversificada e clima que oscila do tropical ao semiárido. Todas essas características ajudaram a criar vários nichos ecológicos que favoreceram a formação das tantas espécies que temos. A teoria do respeitado biólogo evolucionista alemão Ernst Mayr - falecido em 2005 aos quase 101 anos de idade -, obstinado seguidor do evolucionismo de Charles Darwin, ajuda a entender melhor e até confirmar esse complexo mecanismo de vida no Brasil. Mayr costumava definir vegetais ou animais como um conjunto de organismos que se cruza entre si dentro de grupos semelhantes em nichos ecológicos isolados.
Não há melhor exemplo da ideia proposta pelo evolucionista alemão que o da Amazônia. Durante a última Era Glacial, que teve fim por volta de 10 mil anos atrás, incontáveis nichos ecológicos separados entre si dentro dos limites da extensa vegetação se formaram e deram origem a milhões de novas espécies. Foi o que permitiu à maior floresta tropical do mundo - com 6 milhões de quilômetros quadrados, cerca de 60% deles em território brasileiro - concentrar a mais valiosa biodiversidade do planeta ao longo desses milhares de anos.
Além da riqueza vegetal, esse cenário apresenta números impressionantes de vida animal. Exemplo: nas águas da bacia Amazônica vive a maior variedade de peixes da América do Sul, mais de 1,3 mil espécies distintas, quantidade bastante superior à verificada em todas as demais bacias hidrográficas de qualquer parte do globo terrestre. Somente ao longo do caudaloso e ácido rio Negro foram catalogados cerca de 450 tipos diferentes. É uma abundância quase inacreditável. De leste a oeste da Europa não se encontram mais que 200. Isso sem levar em consideração a estimativa de que 40% dos peixes nos rios amazônicos nem sequer foram descobertas e descritas pelos pesquisadores.
A contabilidade da grande floresta é surpreendente. Na Amazônia vivem 163 espécies de anfíbios conhecidos pela ciência, o que representa 4% das 4 mil já catalogadas dessa classe de vertebrados no mundo e 27% das que foram descritas no Brasil. Entretanto, estimativas do Museu Paraense Emílio Goeldi dão conta de que deve haver ainda muito mais anfíbios vivendo na floresta Amazônica. A justificativa é a de que os estudos sobre esses animais têm sido concentrados apenas nas margens dos principais afluentes do rio Amazonas e nas regiões com acesso facilitado pelas rodovias. O custo para se chegar mais distante acaba inviabilizando novas pesquisas.
Afinal, qual outro país abriga tão expressiva biodiversidade como o Brasil? A resposta, simples e direta: nenhum. Seis dos principais biomas de nosso território reúnem a maior variedade de fauna e flora da Terra. De acordo com os números do Ministério do Meio Ambiente, Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal Mato-Grossense e Pampas têm, juntos, mais de 13% de cerca de 1,5 milhão de espécies de vida selvagem já descobertas e catalogadas pelos cientistas nos quatro cantos do mundo.
Trocando em miúdos: além das 55 mil plantas com sementes, são nada menos que 530 de mamíferos (mais de meia centena de primatas), 1,8 mil de aves, 800 de anfíbios, 680 de répteis e cerca de 3 mil de peixes. Isso sem levar em conta que apenas 10% da zoologia brasileira estimada é conhecida e estudada. Os mais respeitados pesquisadores internacionais calculam que estão sendo encontrados, a cada ano, perto de 1,5 mil novas espécies. Nesse ritmo, dizem eles, precisaremos de 800 mil anos para conhecer toda a nossa biodiversidade - claro, contanto que estancássemos o ritmo de devastação e extinção. Entre os grupos mais bem identificados e definidos de forma científica em nossa fauna estão os mamíferos e as aves. São os mais visíveis na mata, os mais comuns de estar em contato com o ser humano. Contudo, grande parte de pequenos animais que se escondem no alto das árvores, invertebrados e elementos que vivem nas águas da costa litorânea são ainda ilustres desconhecidos da comunidade científica.
Essa riqueza de fauna deve-se aos múltiplos hábitats que ocupam o imenso território brasileiro, com sua geografia diversificada e clima que oscila do tropical ao semiárido. Todas essas características ajudaram a criar vários nichos ecológicos que favoreceram a formação das tantas espécies que temos. A teoria do respeitado biólogo evolucionista alemão Ernst Mayr - falecido em 2005 aos quase 101 anos de idade -, obstinado seguidor do evolucionismo de Charles Darwin, ajuda a entender melhor e até confirmar esse complexo mecanismo de vida no Brasil. Mayr costumava definir vegetais ou animais como um conjunto de organismos que se cruza entre si dentro de grupos semelhantes em nichos ecológicos isolados.
Não há melhor exemplo da ideia proposta pelo evolucionista alemão que o da Amazônia. Durante a última Era Glacial, que teve fim por volta de 10 mil anos atrás, incontáveis nichos ecológicos separados entre si dentro dos limites da extensa vegetação se formaram e deram origem a milhões de novas espécies. Foi o que permitiu à maior floresta tropical do mundo - com 6 milhões de quilômetros quadrados, cerca de 60% deles em território brasileiro - concentrar a mais valiosa biodiversidade do planeta ao longo desses milhares de anos.
Além da riqueza vegetal, esse cenário apresenta números impressionantes de vida animal. Exemplo: nas águas da bacia Amazônica vive a maior variedade de peixes da América do Sul, mais de 1,3 mil espécies distintas, quantidade bastante superior à verificada em todas as demais bacias hidrográficas de qualquer parte do globo terrestre. Somente ao longo do caudaloso e ácido rio Negro foram catalogados cerca de 450 tipos diferentes. É uma abundância quase inacreditável. De leste a oeste da Europa não se encontram mais que 200. Isso sem levar em consideração a estimativa de que 40% dos peixes nos rios amazônicos nem sequer foram descobertas e descritas pelos pesquisadores.
A contabilidade da grande floresta é surpreendente. Na Amazônia vivem 163 espécies de anfíbios conhecidos pela ciência, o que representa 4% das 4 mil já catalogadas dessa classe de vertebrados no mundo e 27% das que foram descritas no Brasil. Entretanto, estimativas do Museu Paraense Emílio Goeldi dão conta de que deve haver ainda muito mais anfíbios vivendo na floresta Amazônica. A justificativa é a de que os estudos sobre esses animais têm sido concentrados apenas nas margens dos principais afluentes do rio Amazonas e nas regiões com acesso facilitado pelas rodovias. O custo para se chegar mais distante acaba inviabilizando novas pesquisas.
Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL
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